Realmente...como ninguém te amou antes.... Qualquer semelhança não é coincidência é realidade!

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

VINHO


          Um dia desses ainda vou descobrir o segredo do vinho – essa bebida sagrada que as deusas e os deuses se lambuzam quando é festa e quando não é. Vou descobrir por que todas as vezes que homens-meninos tomam o cálice entre os dedos começam a tremer. Talvez seja pela taça! Fininha, pendurada por uma haste comprida, transparente e delicada, como se o próprio toque fosse comprometer aquela fragilidade invisível que abraça a bebida.
            Há que saber: se a bebida é sagrada não é preciso temer a quebra do cálice. O sagrado tem a força de proteger o que é cálido. O sagrado não é uma ventania que vem para assustar. É aquele abraço que cuida do coração, que enrola as lágrimas em um pedacinho de folha. É aquela lembrança que teima em ficar escondida dentro dos apaixonados. Sagrado é o brilho do olhar, o ensanduichar das mãos, o medo de quer mais.
            Ah a bebida! Talvez ela mesma seja a causadora da desobediência das pernas e das mãos. Não pelo teor inebriante do líquido, mas pela sua cor. É isso: homens-meninos tremem quando os olhos se deparam com a cor de sangue. Aquele vinho tinha a cor de sangue! Agora não há mais o que duvidar. A cor vermelha é a responsável por enviar adrenalina ao pulso.
            O sangue é bem capaz de enfeitiçar! Conheço muitas histórias de bruxas que enfeitiçaram príncipes e homens-meninos com a magia do sangue. É assim: bruxas disfarçadas sentam-se à frente dos enfeitiçados. Olham bem em seus olhos e oferecem uma bebida doce, mas com a cor de sangue. Assim eles bebem, bebem. Mas, não sabem que estão saboreando a si próprios. Estão bebericando o passado só para viver intensamente.
            Viver quer dizer hoje, agora! Significa sentir na língua o gosto forte da bebida sagrada, e não ter medo de tremer. Porque o medo é assim: basta lançar um olhar em sua direção que ele se evapora. É verdade que precisa olhar firme, principalmente para dentro da janela.
            Cada um é dono de uma janela. Muitas pessoas não sabem que possuem, e que podem expiar o passado por ela. Podem, também, olhar para aquilo que ainda não foi revelado, o futuro. Quem consegue expiar o futuro vira bruxo. Não é tarefa fácil. É preciso querer, desejar, reservar tempo para contemplar as estrelas e a lua. É preciso ter sensibilidade, coragem e, sobretudo, não ter vergonha de chorar.
            Já vi muitos homens-meninos chorarem o feitiço daquela bebida-sangue. Lutam, se debatem, desnecessariamente, contra seus efeitos. Mas, nada adianta, senão, entregar-se completamente às dores da paixão. Entregar-se! Esse é o único remédio. Pois, quando acontece à entrega é porque não se quer a posse. Quando há a entrega nada se espera, nem mesmo a ausência da própria dor.
            Assim que descobrir o porquê dos tremores provocados pela magia da bebida sagrada, contarei a todos. Vou espalhar juro! Assim, outras pessoas poderão saborear essa delícia: o descontrole da respiração, dos braços, das pernas, das mãos, do coração. É a liberdade do descontrole, o perder de si mesmo que transforma o homem-menino em um pássaro. Pássaro que voa, que encanta e que traz próximo quem está longe.


Celica Vebber

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Não deu certo! E agora?